"Muitas vezes, a verdadeira esperança não está na crença radiante em um mundo reconciliado. Essa crença, quando aparece muito cedo, acaba por matar toda reconciliação possível. Por isso, a verdadeira esperança sempre é precedida por uma profunda recusa. Dessa recusa vem a abertura para realizar o que ainda não sabemos como fazer."
(...) a confissão passou a ser, no Ocidente, uma das técnicas mais altamente valorizadas para produzir a verdade. Desde então nos tornamos uma sociedade singularmente confessanda. A confissão difundiu amplamente seus efeitos: na justiça, na medicina, na pedagogia, nas relações familiares, nas relações amorosas, na esfera mais cotidiana e nos ritos mais solenes; confessam-se os crimes, os pecados, os pensamentos e os desejos, confessam-se passado e sonhos, confessa-se a infância; confessam-se as próprias doenças e misérias; emprega-se a maior exatidão para dizer o mais difícil de ser dito; confessa-se em público, em particular, aos pais, aos educadores, ao médico, àqueles a quem se ama; fazem-se a si próprios, no prazer e na dor, confissões impossíveis de confiar a outrem, com o que se produzem nos livros. Confessa-se -- ou se é forçado a confessar. Quando a confissão não é espontânea ou imposta por algum imperativo interior, é extorquida; desencavam-na na alma ou arrancam-na ao corpo. (...) Tanto a ternura mais desarmada quanto os mais sangrentos poderes têm necessidade de confissões.
(...) passou-se a uma literatura ordenada em função da tarefa infinita de buscar, no fundo de si mesmo, entre as palavras, uma verdade que a própria forma de confissão acena como sendo inacessível. Daí também, essa outra maneira de filosofar: procurar a relação fundamental com a verdade, não simplesmente em si mesmo -- em algum saber esquecido ou em um certo vestígio originário -- mas no exame de si mesmo que proporciona, através de tantas impressões fugidias, as certezas fundamentais da consciência. (...) já está tão profundamente incorporada a nós que não a percebemos mais como efeito de um poder que nos coage; parece-nos, ao contrário, que a verdade, na região mais secreta de nós próprios, não "demanda" nada mais que revelar-se; e que, se não chega a isso, é porque é contida à força.
"Luxo é você ser autor da sua história! É uma coisa que, atualmente, tentam tirar de você o tempo inteiro. Você se envolve com tanta gente, com tantos compromissos. Então, você ser autor da sua própria história e definir os personagens, o cenário, a trilha e o figurino é um luxo que não pretendo perder de vista. Acho que é isso que me mantém... não sei se me mantém centrado... Mas é isso que me mantém tranquilo, que me mantém em paz."
Ronaldo Fraga nesta última edição da revista TPM.
Porque ídolo tem que ser assim, gente que tem a própria vida nas mãos.
- Irmão: quando a dor aperta chora até à exaustão. Chora tanto que as tuas lágrimas mais as minhas lágrimas formem um rio ou um oceano. Pega nas mãos doloridas, sôfregas, trêmulas e constrói uma jangada, uma canoa, um barco com os cacos da vida esparsos à tua volta. Lança a embarcação no mar das tuas lágrimas e navega sereno até ao horizonte das estrelas. Não desperdices nunca o calor e a força do teu pranto. É preciso não vergar. Aguentar o peso de cada hora e de cada dia que passa é o destino do homem. Mesmo na canção da dor há uma estrofe de esperança. Cada dia tem a sua história.
Trecho de Ventos do Apocalipse, da escritora moçambicana Paulina Chiziane. O livro conta a história da "guerra civil" (como Europa e Américas quiseram chamar) pós-colonialista em Moçambique.
Este trecho é especialmente marcante, dito pelo chefe do grupo de refugiados quando são finalmente acolhidos em uma vila, após 21 dias fugindo pela mata depois de um massacre.
É preciso fazer da dor o seu mar e a sua jangada, é preciso acreditar que depois da guerra há esperança.
Outra parte do livro que eu gostei muito foi o encontro de um casal. É bem simples, eles procuram um lugar na mata longe da vista das pessoas para ficarem juntos. A escritora chama de "riso de liberdade" esse momento. Para um povo que teve a liberdade privada na colonização e que, depois da independência, teve que lutar para definir suas identidades, a liberdade ganha outro sentido. Esse momento dos amantes sozinhos é a liberdade mais pura.
“Vamos vaguear no caminho, vaga-lumes no
esplendor dos campos enegrecidos pela noite, nas sombras medonhas das figueiras,
porque seremos os únicos habitantes da terra. Vem, coração, as cigarras
oferecem-nos esta música de paz. Encontram-se. Wusheni ergue os braços, duas
asas negras balançando nas nuvens. Dambuza levanta-a, fardo leve, doce,
precioso.”
É vontade de saber falar e saber sentir o que é certo. É cansaço de me ver onde não quero, de descobrir a pequenez em todos os sentidos. É o medo de que vejam o quanto eu sou pequena ou não que não vejam o quanto eu sou grande. Eles vêem.
É não saber impor a vontade à necessidade. É não controlar a impulsividade e não saber se mover.
É querer ser vista sem ter que me mostrar porque eu mesma não me vejo. É querer me sentir pelo menos uma vez tão cheia e tão feliz e tanta luz e tão claro, que eu explodo. É ver fadas. É ser completa e ser igual. É mostrar sem pudor, ver sem ter defeito. É adorar cada defeito. E é querer isso tão despreparadamente, fazer tanto disso a sua vida, que é se entregar assim para qualquer coisa que possa despertar essa vontade, mesmo àquelas que não querem isso de mim e que vão me manter parada. Que fazem minha mente voar, mas o peso dos meus pés continuar no chão.
Num desses relacionamentos rápidos (cheios de pretensão, mas indolores) aí, eu tava tão de saco cheio de não conseguir olhar no olho e falar o que eu precisava, que decidi terminar por e-mail (feio).
Mas daí eu ponderei, deixei meu lado Sandy falar mais alto e a história teve um final feliz - a gente terminou cara a cara mesmo.
O e-mail ficou lá na pasta de rascunhos e achei hoje. Então vai aí, porque é muito velho, não tem mais importância e eu ainda concordo com algumas coisas.Vai ficar meio sem contexto, mas não é uma história que precise ser contada.
Eu penso em você pelas coisas que você promete, pelo que você me diz que sente e pelo o que poderíamos ser. É amor? Não. Mas quem sabe um dia pode ser. Não quero me comprometer a isso, mas as suas promessas é que estão me fazendo sentir assim. To querendo fugir de você. To querendo abandonar o barco agora. Mas acho que é o melhor que eu posso fazer por nós. Aí você encontra alguém, se define e se realiza. Eu me acho, me sinto à vontade, encontro e sou feliz. É assim que vai acontecer. Um dia, eu vou encontrar alguém. Um dia, eu vou encontrar o meu amor. Mas o que eu preciso é de companhia. O que eu preciso é de atenção diária e de não sentir o mundo inteiro sobre os meus ombros. Quero sentir o mundo sobre quatro ombros. É disso que eu sinto falta, é disso que eu preciso e é isso que você não pode me proporcionar. Não digo só pela distância, mas pela forma como você conduz as coisas. Você se preocupa demais em saber como eu sou, em me fazer promessas ou se convencer de que você tem em quem pensar. Só que não é bem assim. Você não está disposto a ouvir minhas bobagens e essa é uma parte fundamental de mim. As coisas profundas são as que vêm em segundo plano, que devem ser descobertas com a incrível convivência. O amor, me parece, surge mesmo com o tempo, com o nada. Parece que o amor não pode ser plantado, sua semente dá onde quer... o máximo que podemos fazer é regá-lo depois. O amor não surge em terras férteis, necessariamente. Acontece é que a gente não sabe é do que ele precisa pra viver. Amor que vai nascendo da cumplicidade diária. E é bizarro que seja no C. que eu enxergo essa possibilidade maior hoje em dia. Posso conversar com ele. Posso me abrir e falar minhas besteiras. Porque ele sabe a boboca que eu sou e mesmo assim não se importa. Mesmo assim ouve o que eu preciso que ele ouça e fala o que eu preciso que ele fale. E o mais bonito disso tudo é que o C. é um fodido, que não faz isso como técnicas de conquista. O mais bonito é que isso é natural e, por isso, possível. Amor não é flor de plástico. Amor não se dá em buquê, se dá em vasinho.