terça-feira, 9 de março de 2010

rabiscos enquanto te esperava

Continuando o que eu estava dizendo quando fomos interrompidos: então será que é verdade que a vida não é feita de surpresas, mas de esforços, tentativas, tentativas de novo e sonhos bem-sucedidos ou não? To tão cansada de me esforçar e parece que a única que está socando o João-bobo, com a mão machucada e o suor excessivo sou eu. É aquela coisa de a gente não enxergar os tombos, mas parece que tudo o que eu vivo é mentira. Isso é tão... decepcionante? O que me dói é olhar pra trás e ver o monte de oportunidades que eu deixei passar quando parecia que eu tinha tanto tempo. Você sabia que os dias não têm 24, mas 19 horas? Não sou dona de nenhuma delas. Eu sei que não tem rascunho e é como se eu não tivesse nem futuro. Fico nessa corrida contra o tempo, coelho correndo “to atrasado”. Como vamos chamar o nosso gato? Todas as minhas tentativas ainda parecem pouco quando seus olhos azuis me mostram que tudo é ainda muito maior. Vamos falar sobre o tempo enquanto tomamos uma cerveja? Vamos sorrir? Que assim ele passa mais devagar... Vamos falar sobre aquele tempo em que você só queria entender o que acontece nesse mundo tão novo, visitante de um país diferente, em que cada sotaque tem sabor de fruta fresca. Eu já me sentia dolorida e sem esperança, procurando um analgésico que desse jeito. Estiramento do músculo. Eu ofegante e você o ar fresco. Era tanto tempo, deixamos passar. “Ainda dá tempo” e os dias nem têm mais 24 horas.até quando teremos que esperar? Como aquele dia em que eu te olhei e você assoprou a fumava do cigarro com a mão no bolso. Pose de flanêur. Também quero ver o mundo pelos seus olhos tão azuis. Intrusa no seu universo de cores e sons confusos. Harmonia que destoa de mim. Eu não consigo te ouvir. Certa vez você quis falar sobre loucura e eu fiquei quieta, porque sentia você finalmente no meu mundo. Estava achando tudo tão em sintonia que eu só queria que você dissesse o que espera de alguém como eu. Me desculpe se pareço tão avoada, mas é que cada palavra sua reflete uma imagem que eu nunca reconheci por aqui. Águas calmas de espelho, vitória-régia e susto. Cada sílaba, cada sentimento, um pedaço tão pequeno do que a gente poderia ser. Eu gosto da sua calma, astronauta apreciando a órbita, uma imensidão de espaços tranquilos com as estrelas brilhando – cada uma com seu brilho próprio.  Elas brilham sozinhas. Você ri da minha desordem, disse que eu não vejo que o caos tem mais a ver com o olhar do que com a bagunça.



(e você chegou)