Expectativa alta, quase sonora, perguntas sem resposta, uma rosa tatuada. Um botão de flor murcho, que ainda tem cheiro. O branco já ficou amarelado, as pétalas estão secando. Em cima da mesa só o pó e o livro aberto. Não está na página marcada, o vento folheou e hoje nada mais faz sentido. Assim tudo parado, a gente tenta achar poesia... Diz que falta o som de um piano – mas tem um rádio ligado. “Recados do coração”. Poeminhas piegas “de alguém que te ama tanto...” e começa a música tão brega, ele chorando por um amor que foi embora. Aqui, eu acabo de sair do banho, ainda escorrendo água do cabelo pelas costas, cheiro de hidratante. Ouço as buzinas na rua (o trânsito ta parado), mas não presto atenção no rádio. A empregada cantarola a música enquanto termina de lavar a louça: dois pratos, duas taças e o cinzeiro cheio.