O sol queimando sem ser interrompido por nenhuma nuvem ou sombra. Abafado. Quente, o concreto ainda mais quente, queimando e refletindo o calor que absorveu.
Flores de plástico irradiam um brilho fosco, artificial e, ironicamente, morto. As flores vivas, murchas, se dobram ao sol e ao silêncio.
No calor, tudo fica em câmera lenta. Pensamentos e pessoas passam devagar. Só se fala baixo em cemitérios. Não há água, sombra ou escapatória.
De frente a fotos – registros de momentos que hoje estão na memória dos poucos que choram – as pessoas se ajoelham, em respeito a sabe-se lá o que. Talvez ao desconhecido. Debaixo do sol queimando e diante de fotos 3x4 as pessoas fazem silêncio. Durante alguns segundos, pensam no passado bom (mesmo que momentos breves), nas coisas que deveriam ter sido diferentes, no que a gente espera que aconteça depois. Na verdade, ninguém sabe muito bem o que pensa: neste calor e de frente a uma lápide.
Agachados, com o suor escorrendo no rosto, o barulho de um fósforo riscando e acendendo a vela. O vento não refresca, mas apaga a chama várias vezes.
