sexta-feira, 14 de maio de 2010

Sou bicho


Meu roommate diz que esse é meu papo de maconheira e quando eu começo falar disso (e eu falo bastante porque penso muito sobre) ele pergunta se eu to chapada (geralmente eu to, mas às vezes não) mas eu adoro me reconhecer como bicho. Sabe, sou mamífera, tenho sangue quente e instintos incontroláveis, me sinto atraída por cheiros e tamos ai, caminhando no mundo. E, na real, eu acho que o problema todo é que as pessoas não enxergam tanto isso. Sabe, é uma vantagem enorme mesmo a gente ter aprendido a escovar os dentes, mas por mais que você cague em uma bacia de porcelana, você continua produzindo merda o tempo todo (e suando, se reproduzindo e morrendo) e sua merda vai parar lá no Tietê, sujando a casa das coitadas das capivaras. 
E por mais que digam que a cor da moda é o Jade da Chanel (nem é mais, né) você ta é pintando seus cascos. E mesmo assim a gente se acha muito superior por causa dessas coisas.
Quando eu nasci, o mundo já tava aê essa coisa toda “evoluída” (luz elétrica e capitalismo bombando), mas o que me incomoda mesmo é que não escolhi viver assim e não tenho escolha. Outras pessoas que surgiram antes escolheram tudo aí e firmaram essa “ordem mundial”, mas me irrita muito não poder decidir não seguir nada disso, não poder ficar com um cara aí (o mais forte e de rosto quadrado) caçando e andando enquanto eu amarro umas peles pra proteger as crias do frio. Não é exatamente a vida que eu escolheria, mas odeio não poder escolher – seja porque as pessoas são domadas (é, odeio religiões também – me processem) ou porque to sozinha nessa (não sou auto-suficiente assumida).
Olha, nem tenho ideia melhor pra nada do que ta por aí, não, mas me cansa isso de as pessoas simplesmente pararem no sinal vermelho e seguirem no verde sem nunca pensar no condicionamento todo que tem atrás disso. A gente é refém da própria evolução, entende? A gente acha que é muito livre por poder percorrer 600km em 6 horas de carro, mas a gente ta é abrindo mão de um monte de coisa.
Mas ó, eu adoro isso de ser racional, de a gente poder fazer arte, disseminar ideias... mas até o consumo de arte vira uma coisa burocrática e aí perde todo o sentido. É sensacional a gente se reunir em bando numa sala escura pra ver uma história louca que acontece num universo paralelo, mas aí fode as pessoas irem no cinema porque “é o que eu faço às quartas”. É demais as pessoas ficarem juntas com música, bebidas e drogas, se divertindo e esquecendo da vida, mas e quando só fazem isso porque, sei lá “sábado à noite não é dia de ficar em casa” e acabam nem se divertindo de verdade? Não é triste?
Enfim, esse papo funciona muito melhor quando as outras pessoas estão bêbadas comigo no boteco, juro. (Ou não... vai ver eu sou chata mesmo, heh) 

Darwin diz: sshhhh.