Você nunca se aproxima e de longe me olha como se pudesse dizer exatamente o que estou pensando. Nossos olhares não parecem tão distantes – e eu nem tinha notado que foi a distância que nos aproximou tanto mais. As pessoas passavam entre nós e a apenas alguns passos, você deixou que elas escondessem o nosso caminho.
Esse é o seu jeito de dizer que temos todo o tempo do mundo.
Elas passam e nós continuamos parados.
Naquela aula de literatura nós ouvimos sobre alguns poetas e você me passou discretamente uma folha rasgada com um poema que tinha acabado de fazer. Nele, estava escrito o que eu estava pensando. Você sorriu porque também sabia o que eu falaria sobre ele. Por um segundo, fiquei preocupada achando que já sou tão óbvia pra você, e que é assim que as coisas terminam. E aí você sorriu dizendo que isso é só o começo (você insiste no começo e eu insisto que não tem dessa de pra sempre e você se diverte com extremos e com planos pra semana que vem)
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Então é assim que as coisas começam, nós dois inseguros, a distância que já se estabeleceu e a sua presença cada vez mais rarefeita. No seu sorriso, de longe, eu reconheço a melancolia de quem se isola do mundo de propósito, flanêur de uma vida que você ama sem nem saber ao certo qual é. Você abaixa os olhos e volta à sua leitura, e eu daqui vejo a sua distração, os olhos, no escuro, fingindo percorrer as linhas sem nunca virar as páginas. Mais uma vez, seu pensamento não acompanha o seu corpo. A sua inaptidão é tão aparente que até engana que você tem alguma certeza. Mas a sua voz quase não sai. E enquanto a maioria não presta atenção, eu imagino a ebulição dentro da sua cabeça sem conseguir nem adivinhar por onde caminha seu coração. Porque sua presença me deixa assim cafona, pensando naqueles momentos que a gente divide e que você tem tão pouco a dizer sobre tudo aquilo que eu quero ouvir, mas nunca pergunto. Quando forço a aproximação e avanço com perguntas, você começa a falar sem parar sobre a única coisa que eu já sei. Aqui eu fico tentando adivinhar as músicas que grudam na sua cabeça e quais os versos que você marca com um lápis. Onde você quer deixar marcas? Não sei o que te define, além da distância que você quer manter de mim e do resto do mundo. E ai eu sempre penso sobre o final de tudo, que nós declaramos tão longe, apesar de o presente não fazer mais parte dos nossos planos. Hoje eu resolvi parar na sua frente e dizer tudo isso, dizer que hoje é só o começo, que o que a gente tem de tão diferente é o que nos une, porque encontramos um no outro o espaço que a gente precisava para ser o que quiser, pela primeira vez. E aí quando você sorriu, eu não disse nada. Porque nem foi preciso.
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Então é assim que as coisas começam, nós dois inseguros, a distância que já se estabeleceu e a sua presença cada vez mais rarefeita. No seu sorriso, de longe, eu reconheço a melancolia de quem se isola do mundo de propósito, flanêur de uma vida que você ama sem nem saber ao certo qual é. Você abaixa os olhos e volta à sua leitura, e eu daqui vejo a sua distração, os olhos, no escuro, fingindo percorrer as linhas sem nunca virar as páginas. Mais uma vez, seu pensamento não acompanha o seu corpo. A sua inaptidão é tão aparente que até engana que você tem alguma certeza. Mas a sua voz quase não sai. E enquanto a maioria não presta atenção, eu imagino a ebulição dentro da sua cabeça sem conseguir nem adivinhar por onde caminha seu coração. Porque sua presença me deixa assim cafona, pensando naqueles momentos que a gente divide e que você tem tão pouco a dizer sobre tudo aquilo que eu quero ouvir, mas nunca pergunto. Quando forço a aproximação e avanço com perguntas, você começa a falar sem parar sobre a única coisa que eu já sei. Aqui eu fico tentando adivinhar as músicas que grudam na sua cabeça e quais os versos que você marca com um lápis. Onde você quer deixar marcas? Não sei o que te define, além da distância que você quer manter de mim e do resto do mundo. E ai eu sempre penso sobre o final de tudo, que nós declaramos tão longe, apesar de o presente não fazer mais parte dos nossos planos. Hoje eu resolvi parar na sua frente e dizer tudo isso, dizer que hoje é só o começo, que o que a gente tem de tão diferente é o que nos une, porque encontramos um no outro o espaço que a gente precisava para ser o que quiser, pela primeira vez. E aí quando você sorriu, eu não disse nada. Porque nem foi preciso.